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 Para uma Semiótica do corpo

  [ Maria Augusta Babo ] *

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> O Corpo: soma ou sema

> A corporeidade na perspectiva fenomenológica

> O Corpo enquanto pele

> O corpo e as suas próteses

> Como mudar de corpo

> Marcações do/no corpo

> Espectacularização do corpo

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Espectacularização do corpo

O que aqui parece estar em causa, para além ou aquém de ideais estéticos, é a ideia muito premente de transformação do corpo, como algo do foro subjectal, se modela, se refigura, se transfigura, mesmo através da des-figuração. Ideia que implica necessariamente a subordinação do corpo ao olhar do outro, a sua exibição mesma, como corpo exposto: "Isto é o meu corpo", como enunciado performativo de uma idividuação última. É nesta dimensão de exibição que insiste Jeudy, remetendo-a, no entanto, para uma localização quase tribal, e explicando através dela a função da tatuagem como representação simbólica: "A exibição da tatuagem é um gesto tido por sagrado, é o mistério de um código figurado por uma representação simbólica que se oferece ao olhar dos outros. À sua maneira, a tatuagem apresenta-se simultâneamnete como uma inscrição intimista sobre o corpo e como uma manifestação pública" (ibid, p.67).

Complexificando-se o regime de signos em que tais inscrições se inserem, elas não deixam no entanto de constituir sempre um grau zero de codificação que Jeudy define como o da "sociabilização da pele". Na verdade, assiste-se hoje a um movimento imponderável de exibição do próprio, seja o corpo seja o domínio das vivências, até então privadas. Des-subjectivado, o sujeito expõe-se e faz da carne o espectáculo que oferece aos outros e que vampiricamente busca no outro.

Tal devir da corporeidade permite assim falar-se de uma desantropomorfização da categoria sujeito que a filosofia vem pensando e que passa por uma des-subjectivação crescente, como refere Sichère: "uma certa forma de des-subjectivação trabalha em permanência nas nossas sociedades/.../". Viragem que aponta para posturas cada vez mais efémeras, impessoais, porque anonimizadas, onde as semióticas de subjectivação e de significância encontram o seu ponto de interpelação.

 

25 - in: Eloge du sujet. Du retard de la pensée sur le corps., Paris, grasset, 1990, p.197.

26 - Como anunciam Deleuze/Guattari, ao denunciarem a cumplicidade entre a semiótica e os procedimentos de subjectivação, de significância de organização do corpo em organismo. cf. Mille Plateaux, paris, Minuit, 1980, nomeadamente, p.221.