trans.gif (43 bytes) trans.gif (43 bytes)

  Olhar Armado e Eros Tecnológico em Heiner Müller

  [ José Galisi Filho ]

trans.gif (43 bytes)
trans.gif (43 bytes)

> Olhar Armado e Eros Tecnológico em Heiner Müller

> O olho de Urânia

> Olhar fenomenólogico

> A blindagem do eu e Eros tecnológico

> O resto não dissimulado

> A Pátria e o Corpo das Palavras

A Pátria e o Corpo das Palavras

Encorajado por uma tal demonstração da potência da razão (encontrada na matemática), o impulso de ampliamento não vê limites. A leve pomba, quando em livre vôo fende o ar, cuja resistência ela sente, poderia formar-se a representação de que no vácuo ela teria melhor êxito. Assim abandonou Platao o mundo dos sentidos, porque este põe limites muito estreitos ao entendimento, e se aventurou para além deles, sobre as asas das idéias, no espaço vazio do entendimento puro


Motivo em A.S.

Debuisson na Jamaica
Entre peitos negros

Em Paris Robespierre
Com o queixo partido.
Ou Joana d'Arc quando o anjo não apareceu
No fim os anjos nunca aparecem
DANTON MONTE DE CARNE NÃO PODE DAR À RUA CARNE
VEDE VEDE AFINAL A CARNE NA RUA
CAÇA AO VEADO NOS SAPATOS AMARELOS
Cristo. O diabo mostra-lhe as riquezas do mundo
RENEGA A CRUZ E TUDO SERÁ TEU
Em tempo de traição
São belas as paisagens (1961)


Em seu monólogo final em Der Auftrag, a personagem Debuisson afirma que a poesia é a "linguagem da inutilidade", pois a História - da qual se distancia -, "sempre atinge a linha de chegada sobre corcéis mortos". Em um tempo de restauração, a própria beleza parece se exilar naquele continente remoto sem paráfrase, para o qual partirá num navio-fantasma, fracassada a missão do Diretório na Jamaica depois do 18 Brumário. Para o médico jacobino, o parto revolucionário fora um natimorto, como a luz errante de estrelas já extintas. "No tempo da traição, as paisagens são belas" anotava Müller ironicamente em 1961, pois os anjos não costumam aparecer nestas ocasiões.

Somente no instante da peripécia para a farsa, Debuisson perceberá finalmente o quanto a ilha era bela, e neste limiar de sublime, entre o histórico e o que escapa à tessitura de sua prosa, entrega-se num mergulho em direção ao pólo. Na geometria interna do texto, este movimento obedece a um sentido horizontal, num afrouxamento do devir como diferença, cristalizando-se em paisagem sem legibilidade.

Der Mann im Fahrstuhl, no epicentro de Der Auftrag, é quase uma ilha à deriva na obra de Müller, e indica de fato um deslocamento vertical que se opõe ao movimento anterior: a reversibilidade entre tempo e espaço instaurada pelo monólogo inverte o sentido da escolha de Debuisson pela "Beleza" e seu exílio; se Debuisson afasta-se horizontalmente, no emudecimento progressivo da natureza, a aceleração temporal centrífuga do elevador desafia, na primeira parte do monólogo, a própria gravidade e estabelece uma zona de inércia temporal. O mergulho é uma implosão seqüencial; a própria sintaxe acelerada e ofegante da fala acompanha este enlouquecimento do relógio de pulso até que a porta se abra e, então, já nos primeiros passos da personagem pela aldeia peruana, desacelera-se o fluxo do texto e uma nova respiração se instaura. Este é um dos instantes mais luminosos da dramaturgia de Heiner Müller. É possível quase sentir no ponto final que encerra a descida - e a também a longa frase, quando a porta/labirinto deste elevador se abre -, a liberação de uma nova energia, que se traduz na personagem como um suspiro profundo e compaixão.

Como observa com extrema precisão o critico português José Bragança de Miranda, o núcleo de força do qual se origina este movimento contém uma "promessa histórica" que não pode cumprir-se na imanência deste processo e está além da capacidade regenerativa das continuidades de superfície e a obra de Heiner Müller indicaria desta forma uma "resistência" contra a gravidade física do movimento. E da chama e do desejo desta História consumida restem-nos apenas suas "cinzas", eu diria, o fantasma da racionalidade que se inscreve em seu projeto como uma ilusão necessária que de fato Debuisson nunca traiu: "a Paz. os Negócios, o Mercado, o Mundo" sãos os vestígios desta implosão. Para o jacobino Debuisson, uma escolha existencial na forma do "céu da beleza", "máscara da traição", rubro e úmido como gozo arcaico. Mas a chave deste texto secreto, confidenciado pelo "Número Um", sua superdeterminação sentida como ausência, enfim, a legibilidade da Missão são a chave de latão das parábolas de Kafka, diante das quais insistimos inutilmente, ou, nas palavras de Müller, esta inércia do movimento, de fato, da luminosidade e do desejo que o alimentam, surge a impossibilidade crescente do real como um olhar de despedida do amanhã. Se a arte é tributária dos sentidos, ela lida com aquilo que é real apenas uma única vez, para então tornar-se eternamente possível e virtual. Pois é o corpo e a materialidade desta História que desaparecem sem vestígios, desenhando sua virtualidade naquele outro território interdito que o olhar de Urânia buscava iluminar. É preciso também eliminar qualquer metafísica sobre Heiner Müller e se perguntar o que significa esta "diferença", este "outro", que é de fato o mesmo, produto necessário da mesma matriz lógica, do mesmo entendimento, das mesmas categorias, pois no caminho do antípoda, há ainda este resíduo ilusório na forma de uma locomotiva desterrada de uma paisagem De Chrico, de uma funcionalidade linear da primeira industrialização. Como em Hölderlin, sem o corpo das palavras, esta capacidade de decifração de nossa experiência perdeu-se na História, está sempre aquém, nunca além desta, e somente nela poderia ser recuperada.

A intensidade estrelada de Der Auftrag, quase um sentimento de orfandade, decorre de um "fading" luminoso da grande Revolução Solar, o zênite republicano da História, epílogo de suas paixões, prolongando-se até o presente como pura negatividade. O texto esquecido desta História nos meandros da memória que a alimenta é a motricidade vazia da fênix imaginária de Kant no solo do transcendental e suas significações, mas sua potência de posse não alcança preenchimento, é preciso renunciar à ilusão deste vôo, como Debuisson "renuncia" ao seu "mandato". Debuisson e a personagem do monólogo são dois momentos distintos da mesma renúncia a este mandato fantasma, um prefigura o outro e o encontro entre ambos, a entrega na forma do desnudamento progressivo, terno, gravata, e casaco é o nascimento de um novo corpo:

Um a espécie de alegria se apodera de mim, penduro o casaco no braço e desabotôo a camisa: estou dando um passeio. Na minha frente, o cachorro atravessa a rua, uma mão no focinho, os dedos voltados para mim e parecem queimados. Jovens cruzam o meu caminho com um ar de ameaça que não me diz respeito. Lá onde a rua se perde na planície, numa atitude que parece de alguém que está esperando por mim, está uma mulher. Estendo os meus braços para ela, há quanto tempo eles não tocam em mulher, e ouço uma voz de homem dizer ESTA MULHER É A MULHER DE UM HOMEM. O tom é definitivo e continuo o meu caminho. Ao me voltar, a mulher estende os braços em minha direção e desnuda os seios. Sobre um aterro ferroviário recoberto pelo capim, dois meninos estão mexendo numa mistura de máquina a vapor com locomotiva que está parada sobre um trilho interrompido. Como europeu, vejo à primeira vista que é um esforço inútil: este veículo não vai se mexer, mas não digo nada às crianças, o trabalho é a esperança, e continuo meu caminho na paisagem que não tem outra tarefa senão o desaparecimento do homem. Agora sei qual é o meu destino. Tiro a minha roupa e jogo fora longe, as aparências não importam mais. Algum dia O OUTRO virá ao meu encontro, o antípoda, o sósia com meu rosto de neve um de nós sobreviverá

Diante da locomotiva coberta pela grama numa paisagem agreste, num ponto zero, em que a realidade transforma-se no que já é, no futuro do passado, algo como a compaixão renasce deste encontro inesperado, na suspensão do texto, no roteiro esquecido de uma tarefa que se liberta, e de sua vaga lembrança, talvez a cartilha revolucionária jacobina no Caribe, seja ainda pertinente formular uma hipótese, fora da linearidade deste devir, como se tivéssemos o direito de formulá-la à margem. Em que trilha estávamos? Qual era a tarefa que se impunha, em que arquivo aquele roteiro se extraviou? O espelho do antípoda não nos devolve nosso reflexo, mas apenas o "branco dos olhos" sem pupilas, como observa o narrador. O texto de Müller busca ser a formulação hipotética deste outro movimento virtual, cuja significação não é dada no sensível, antes, representa seu apagamento. Nesta aproximação máxima, que é estranheza, o conflito não se resolve, nem tampouco o combate é travado até o fim, mas suspenso, e assim prefigura o renascimento da esperança.

 


SEPARATA PARA O TRADUTOR

Textos originais em alemão no corpo do texto principal:

Was meinem Auge diese Kraft gegeben,
Dass alle Misgestalt ihm ist zerronnen,
Dass ihm die Nächte werden heitere Sonnen,
Unordnung Ordnung, und Verwesung Leben?
Was durch der Zeit, des Raums verworr'nes Weben
Mich sicher leitet hin zum ew'gen Bronnen
Des Schönen, Wahren, Guten und den Wonnen,
Und drin vernichtend eintaucht all' mein Streben?
Das ist's. Seit in Urania's Aug', die tiefe
Sich selber klare, blaue, stille, reine
Lichtflamm', ich selber still hineingesehen;
Seitdem ruht dieses Aug' mir in der Tiefe
Und ist in meinem Seyn, - das ewig Eine,
Lebt mir im Leben, sieht in meinem Sehen.

 

STIMME (+ PROJEKTION)

STUNDE DER WEISSGLUT TOTE BÜFFEL, AUS DEN CANYONS GESCHWADER VON HAIEN ZAHNE AUS SCHWARZEM LICHT DIE ALLIGATOREN MEINE FREUNDE GRAMMATIK DER ERDBEBEN HOCHZEIT VON FEUER UND WASSER MENSCHEN AUS NEUEM FLEISCH LAUTREAMONTMALDOROR FÜRST VON ATLANTIS SOHN DER TOTEN

 

PROJEKTION

APOTHEOSE SPARTAKUS EIN FRAGMENT

Auf der Bühne ein Sandhaufen, der einen Torso bedeckt. Bühnenarbeiter, die als Theaterbesucher kostümiert sind, schütten aus Eimern und Säcken Sand auf den Haufen, während gleichzeitig Kellner die Bühne mit Büsten von Dichtern und Denkern vollstellen. Lessing wühlt im Sand, gräbt eine Hand aus, einen Arm. Die Kellner, nun in Schutzhelmen, verpassen Lessing eine Lessingbüste, die Kopf und Schultern bedeckt. Lessing, auf den Knien ,macht vergebliche Versuche, sich von der Büste zu befreien. Man hört aus der Bronze seinen dumpfen Schrei. Applaus von Kellnern Bühnenarbeitern (Theaterbesuchern)

Bilder

Bilder bedeuten alles im Anfang. Sind haltbar. Geräumig.

Aber die Träume gerinnen, werden Gestalt und Enttäuschung.

Schon den Himmel hält kein Bild mehr. Die Wolke, vom Flugzeug

Aus: ein Dampf der die Sicht nimmt. Der Kranich nur noch

ein Vogel.

Der Kommunismus sogar, das Enbild, das immer erfrischte

Weil mit Blut gewaschen wieder und wieder, der Alltag

Zahlt ihn aus mit kleiner Münze, unglänzend, von Schweiss

blind

Trümmer die grossen Gedichte, wie Leiber, lange geliebt und

Nicht mehr gebraucht jetzt, am Weg der vielbrauchenden

endlichen Gattung

Zwischen den Zeilen Gejammer

auf Knochen der Steinträger glücklich

Denn das Schöne bedeutet das mögliche Ende der Schrecken.

 

kann geschlossen werden, daß die Sonne, oder was immer Licht auf diese Gegend wirft, im Augenblick des Bildes im Zenith steht, vielleicht steht DIE SONNE dort immer und IN EWIGKEIT- daß sie sich bewegt, ist aus dem Bild nicht zu beweisen, auch die Wolken, wenn es Wolken sind, schwimmen vielleicht auf der Stelle, das Drahtskelett ihre Befestigung an einem fleckig blauen Brett mit der willkürlichen Bezeichnung HIMMEL

SCHWARZFILM

Das Sichtbare

Kann fotografiert werden

0 PARADIES

DER BLINDHEIT

Was noch gehört wird

Ist Konserve

VERSTOPF DEINE OHREN SOHN

Die Gefühle

Sind von gestern Gedacht wird

Nichts Neues Die Welt

Entzieht sich der Beschreibung

Alles Menschliche

Wird fremd

Wenn die Rede heute an einen sich wenden kann, so sind es weder die sogenannten Massen, noch der Einzelne, der ohnmächtig ist, sondern eher ein eingebildeter Zeuge, dem wie es hinterlassen, damit es doch nicht ganz mit uns untergeht

Brecht

Wirklich, er lebte im finsteren Zeiten.

Die Zeiten sind heller geworden.

Die Zeiten sind finsterer geworden

Wenn die helle sagt, ich bin die Finsternis

Hat sie die Wahrheit gesagt.

Wenn die Finsternis sagt, ich bin

Die Helle, lügt sie nicht

Durch einen solchen Beweis von der Macht der Vernunft eingenommen, sieht der Trieb zur Erweiterung keine Grenzen. Die leichte Taube, indem sie im freien Fluge die Luft theilt, deren Widerstand sie fühlt, könnte die Vorstellung fassen, daß es ihr im luftleeren Raum noch viel //B9// besser gelingen werde. Eben so verließ Plato die Sinnenwelt, weil sie dem Verstande so enge Schranken setzt, und wagte sich jenseit derselben auf den Flügeln der Ideen in den leeren Raum des reinen Verstandes

 

MOTIV BEI A. S.

Debuisson auf Jamaika

Zwischen schwarzen Brüsten

In Paris Robespierre

Mit zerbrochenem Kinn.

Oder Jeanne d'Arc als der Engel ausblieb

Immer bleiben die Engel aus am Ende

FLEISCHBERG DANTON KANN DER STRASSE KEIN FLEISCH GEBEN

SEHT SEHT DOCH DAS FLEISCH AUF DER STRASSE

JAGD AUF DAS ROTWILD IN DEN GELBEN SCHUHEN.

Christus. Der Teufel zeigt ihm die Reiche der Welt

WIRF DAS KREUZ AB UND ALLES IST DEIN.

In der Zeit des Verrats

Sind die Landschaften schön.


Etwas wie Herterkeit breitet sich in mir aus, ich nehme die Jacke über den Arm und knöpfe das Hemd auf: mein Gang ist ein Spaziergang. Vor mir läuft der Hund über die Straße, eine Hand quer in der Scfinauze, die Finger sind mir zugekehrt, sie schon verbrannt aus. Mit einer Drohung, die nicht mich meint, kreuzen junge Männer meinen Weg. Wo die Straße in die Ebene ausläuft, steht in einer Haltung, als ob sie auf mich gewartet hat, eine Frau. Ich strecke die Arme nach ihr aus, wie lange haben wir keine Frau berührt, und höre eine Männerstimme sagen DIESE FRAU IST DIE FRAU EINES MANNES. Der Ton ist endgültig und ich gehe weiter. Als ich mich umsehe, streckt die Frau die Arme nach mir aus und entblößt ihre Brüste. Auf einem grasüberwachsenen Bahndamm basteln zwei Knaben an einer Kreuzung aus Dampfmasrhine und Lokomotive herum, die auf einem abgebrochenen Gleis steht. Ich Europäer sehe mit dem ersten Blick, daß ihre Mühe verloren ist: dieses Fahrzeug wird sich nicht bewegen, aber ich sage es den Kindern nicht, Arbeit ist Hoffnung, und gehe weiter in die Landschaft, die keine andre Arbeit hat als auf das Verschwinden des Menschen zu warten. Ich weiß jetzt meine Bestiminung. Ich werfe meine Kleider ab, auf das Äußere kommt es nicht mehr an. Irgendwann wird DER ANDERE mir entgegenkommen, der Antipode, der Doppelgänger mit meinem Gesicht aus Schnee. Einer von uns wird überleben



 

xvii - KANT, Kritik der reinen Vernunft, A 4-5, B 8. In: "Kant im Kontext. Werke auf CD ROM".

xviii - BARRENTO, João (org.). A Missão e outras peças. Tradução e posfácio de Anabela Mendes. Lisboa, Ápaginastantas, 1982, p. 54.

xix - "Heiner Müller. Do poder da poesia" Ouvi recentemente o registo em CD da peça de Heiner Müller - Der Mann im Fahrstuhl. Aqui, como noutros textos de Müller, impressionou-me a maneira como reflecte sobre o poder, e acima de tudo sobre o seu fracasso irremediável. O poder contém uma promessa histórica que não pode cumprir. Não se trata de tragédia, claro, mas de desencantada ironia, que se alimenta ainda tal promessa. Em si mesma essa promessa é vazia, o que tem a ver com a natureza do poder: a capacidade de realizar, seja o que for, que seja possível mais o fascínio por realizar o impossível. Toda a obra de Müller tem a ver com a impossibilidade de realizar através de um movimento físico. A capacidade de realização perdeu-se na história e só nela pode ser recuperada. Sucede que também a história se perdeu nos escaninhos da memória que a alimenta. O herói, ao serviço do Poder, enquanto este ainda tem sentido, aceita finalmente perder-se, entregar-se à história que já não é certo que possa haver. Para isso tem de apagar cuidadosamente os seus traços de herói-burocrata, de servidor de algo acima dele. Despe-se, finalmente, depois de ter escondido a gravata e tirado o casaco. Nesse ponto encontra-se com o seu outro: outra vez ele, de face branca. Todo o desespero de Müller está aí: se morto para a história, então morto em vida, numa finitude sem remissão. Ora, a nudez do herói deixa-o como simples homem, sem ilusões sobre a possibilidade de ser proprietário da história. O herói liberta-se do Senhor, do Chefe (a que chama o Número Um), e a história livra-se de ambos, do Mestre e do Escravo. Resta apenas uma certa esperança. Não restará uma compaixão pelos que ainda têm história por parte daqueles que a falharam? África, China, Brasil. Como Müller está a anos luz das pobres teses sobre o fim da história. Hoje esta está perdida num arquivo qualquer junto de outros dados, tãoinumeráveis, que não a reconheceríamos mesmo que a encontrássemos. Só que o arquivo, para Müller, é o mundo. Por quê? Porque tudo o que poderia ser ficou suspenso de uma história que não se cumpriu, e o que resta do fogo da história são as suas cinzas: Estado, dinheiro, polícia. Mas também técnica, que se torna incompreensível quando a história fica em suspenso. A certo momento, na peça, o relógio do burocrata parece enlouquecido, incapaz de medir o tempo do mundo e o tempo da história, explodindo coma física. Dessa explosão a poesia é culpada, reconhece Müller. Toda a loucura está na poesia. Mas a poesia é uma culpada feliz: a sua maneira de enlouquecer o mundo pode salvá-lo de si mesmo. JBM (23 de Agosto de 1996) http://ubista.ubi.pt/~miranda/Jbmreflections.html.

xx - MÜLLER, Heiner. Quatro textos para teatro: Mauser, Hamlet-máquina, A Missão, Quarteto. (Tradução de Fernando Peixoto). São Paulo, Hucitec, 1987, p. 50.

xxi - Fichte im Kontext. Werke auf CD ROM. Karsten Worm, InfoSoftWare, Berlin, 1997.

xxii - >MÜLLER, Heiner. Herzstück. Rotbuch, Berlin, 1989, p. 36-7.

xxiii - MÜLLER, Heiner. Gedichte. Suhrkamp, Frankfurt/M, 1998, p. 14.

xxiv - MÜLLER, Heiner. Bildbeschreibung. In: "Shakespeare Factory 1", Rotbuch, Berlin, 1989, p. 7.

xxv - MÜLLER, Heiner. Gedichte. Suhrkamp, Frankfurt/M, 1998, p. 275.

xxvi - HORKHEIMER, Max. Gesammelte Schriften, v. 5. Fischer, Frankfurt/M, 1987, p. 288.

xxvii - MÜLLER, Heiner. Gedichte. Suhrkamp, Frankfurt/M, 1998, p. 37.

xxviii - MÜLLER, Heiner. Gedichte. Suhrkamp, Frankfurt/M, 1998, p. 45.

xix - MÜLLER, Heiner. Herzstück. Rotbuch, Berlin, 1989,