low bandwidth

Jorge Martins Rosa

O nome esconde a ironia ao mesmo tempo que a mostra. Que motivo há para ir a S. Francisco -- no caso, assistir a uma exposição -- se a rede o permite? Ou, invertendo a perspectiva, sendo esta uma instalação orientada para a própria rede (chamar-lhe-íamos site site specific, se a intenção fosse taxinómica), que motivo há para intitular uma mostra como «go to frisco»?

A declaração de intenções é aparentemente clara: trata-se da «intervenção da zé dos bois no encontro sister spaces, no southern exposure em S. Francisco». Nada de novo, mesmo quando somos informados de que o encontro consistiu numa exposição, numa série de debates/conferências e na edição de um catálogo trilingue reunindo misteriosamente os idiomas inglês, chinês e português. A exposição e os debates justificariam a ida a S. Francisco; o catálogo, como é de rigor neste tipo de eventos, marca a presença arquivística da exposição num circuito mais alargado. O resto é ditado pelas escolhas de cada uma das organizações participantes, que por sua vez delegam o seu papel nos artistas chamados à presença -- no caso, distribuídos por três categorias: a arte vídeo, a música e a net.

go to frisco justifica-se enquanto intervenção precisamente na medida em que escapa ao que é ainda comummente entendido como exposição, centrando-se no espaço etéreo da rede. De pouco adianta alegar que a proposta não é totalmente original, e que já outros fizeram algo equivalente com diferentes graus de sucesso, uma vez que o problema aqui reside na própria temática da viagem, que apenas por um acaso teve s. Francisco como destino.

Mais do que pedir-se a um conjunto de artistas que façam peças específicas para o suporte online, enquadra-se esse pedido sob o título genérico de uma ida a S. Francisco. Não se tratando de uma imposição, é em certa medida indiferente que as peças lhe tenham ou não desejado responder, pois a proposta é em si mesma armadilhada: a viagem será feita, queira-se ou não. Sem check-in nem passaporte, tendo como bagagem um computador, um modem e obrigatoriamente os plug-ins para o media player e para o flash. E muita paciência por parte do visitante, pois «viagem» e «instantaneidade» são ainda um casamento interdito. Se o valor artístico de toda e qualquer peça é sempre condicionado pela experiência do observador, o que daqui resulta é uma invariante apesar da multiplicidade de propostas, invariante essa que resulta da desatenção àquilo que o meio poderá ter de específico, ou, numa perspectiva mais transigente, na expectativa de que o acesso seja feito através de um modem de cabo e a visualização num monitor de 21 polegadas. Reduzindo a hipertextualidade a um mínimo estritamente funcional, apostando na passividade do espectador, descurando as condições frias do meio, cada peça acaba por equivaler-se à seguinte, de onde resulta a irónica unidade de toda a mostra, adequando assim o nome à coisa, bem como àquilo que evoca: a viagem, versão romântica a la século XIX.

Seguem-se os exemplos...